26/07/2017

As bailarinas de Edgar Degas



Se eu disser “Edgar Degas”, qual o primeiro pensamento que vem a sua cabeça ?
Ah… o “pintor das bailarinas” deve ser a resposta!

Quem se referiu pela primeira vez a Degas desta forma foi Manet, outro grande pintor francês e um dos iniciadores do movimento moderno da pintura. E tem sua razão de ser: estima-se que Degas tenha deixado cerca de 1.500 obras (entre pastéis, gravuras, desenhos, esculturas) sobre o tema das bailarinas.

Você deve imaginar que Degas deve amar o ballet por ter pintado tantas bailarinas né? Bom, não é bem assim!
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Edgar Degas. Dancers Resting (1879). Pastel. Fonte: Wiki Art

No inicio do século XIX, o teatro era uma das opções favoritas de lazer. Concentrava aristocratas, artistas, banqueiros e mecenas interessados não apenas nas performances no palco, mas também nas “conversas” privadas com as artistas, nos bastidores, após as apresentações.

O ateliê de Degas era muito próximo do teatro onde o Ballet da Ópera de Paris se apresentava na época. Uma oportunidade que ele soube aproveitar. Com o tempo, ganhou acesso aos bastidores, o que lhe permitiu acompanhar fragmentos da rotina diária das bailarinas como aulas, ensaios, êxitos, fracassos, momentos de cansaço e de tédio.

Momentos que foram, posteriormente, eternizados em suas pinturas, esculturas e desenhos.
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Edgar Degas. The Dance Studio (1878). Pastel. Fonte: Wiki Art

Diferente do que se costuma imaginar e do que se lê em algumas publicações, a adoção das bailarinas como tema principal ia muito além da admiração pela dança.

Ao eleger a vida das bailarinas (no palco e fora dele) como tema de tantas obras, Degas estava de olho em dois fatores importantes:

O primeiro deles: a grande aceitação comercial dos quadros.

Bailarinas estavam no auge! O apreço pela presença feminina na dança era tão grande que até os papéis masculinos eram, nesta época, desempenhados por mulheres “en travesti”. Bailarinas eram “objetos de desejo” que despertavam um ávido sentimento posse em burgueses ricos.
Sem falar que muitas dessas meninas sustentavam suas famílias, se esforçavam muito e eram, na maioria, pressionadas por seus familiares.

Falando em termos atuais, esse fascínio criou um “mercado” muito receptivo a tudo relacionado às bailarinas e seu estilo: penteados (a “moda do coque”) figurinos etc, transformando em “itens colecionáveis” tudo o que as tinha como motivo: pinturas, esculturas, desenhos. Eram sucesso de venda!
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Edgar Degas, "Lição de Dança", cerca de 1879.
O segundo fator foi a possibilidade de observar o corpo humano em atividade e em repouso, nos ensaios e no palco, sob as luzes. Degas queria registrar o movimento. 
O ballet oferecia a Degas a possibilidade de jogar e brincar com a figura humana, oferecia a oportunidade de fazer qualquer coisa. Cada dançarina oferecia uma gama de possibilidades de experimentação do movimento: bailarinas em longas pausas, os complexos movimentos que exigiam muita flexibilidade; os pequenos movimentos sem relevância para dança, porém, a essência das bailarinas atraiam Degas. Até mesmo as cores e os tons fascinavam o artista.

Esta possibilidade de analisar, estudar e registrar um instante do corpo humano em movimento foi decisiva na predileção de Degas pelas bailarinas.

Quando perguntado por Louise Havemeyer “Por que o Ballet?” ele teria respondido “porque é tudo o que nos restou da arte dos gregos”. Assim como os gregos, Degas estava preocupado com a figura humana – com a força, a postura e o equilíbrio.

Para representar com mais realismo os movimentos lançou mão, inclusive, da fotografia: técnica recém descoberta na época, que despertava reações variadas nos pintores da época.

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Exemplo de fotografia usada como referência para as pinturas – Fonte: http://www.cultorweb.com/fp/fc.html


Degas privilegia pontos de vista incomuns, instantes que passam despercebidos ( como bailarina coçando as costas , as expressões entediadas, vistas das coxias, os olhares dos espectadores, instantes que antecedem ou sucedem o espetáculo em si).

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Edgar Degas. The Ballet Class (1871-1874). Óleo. Fonte: Wiki Art



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Edgar Degas. Dancer’s Dressing Room (1878). Pastel. Fonte: Wiki Art


Representa os instantâneos de momentos “reais” de forma não “idealizada”, fugindo completamente da visão estereotipada e romantizada adotada por outros pintores que mostravam, de seus temas, apenas o lado glamouroso e sedutor, mesmo que falso.

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Detalhe de The Dance Class (1874). Óleo. Fonte: Wiki Art

Ao ser “rotulado” como Impressionista, principalmente por ter participado de muitas das exposições do grupo, o pintor respondia ser “realista”.

Sobre esta característica, Degas representa as bailarinas de maneira tão realista que o público da epoca poderia facilmente reconhecer algumas artistas, identificar os locais representados nas obras.

“Degas é verdadeiramente o primeiro artista que leva ao cúmulo a indiferença por tudo o que não é verdadeiro e expõe a atividade humana como o médico descreve um caso clínico”.

A ideia de Degas não era criar o retrato de uma bela jovem, mas de uma adolescente implicada em uma das tarefas mais duras: tornar-se uma bailarina. Degas queria realizar uma obra que quebrasse os paradigmas da escultura até aquele momento. O artista nunca havia feito nada parecido, era sua grande ambição. Para isso, realizou uma série de estudos, os quais deram forma à sua pequena bailarina.

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Edgar Degas. Little Dancer, Fourteen Year Old (esboço e estudo) (1881). Pastel e giz. Fonte: Wiki Art Edgar Degas. Little Dancer, Fourteen Year Old (1881). Cera. Fonte: Wiki Art

Tem sempre um desenho como ponto de partida para suas pinturas mas, uma vez que sua vista fica cada vez mais comprometida, abre mão da produção de obras com grande riqueza de detalhes, como suas primeiras pinturas a óleo.

Ele alarga traços dos contornos e os preenche com pastel ou tinta a óleo.

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Edgar Degas. Three Ballet Dancers One with Dark Crimson Waist (1899). Pastel. Fonte: Wiki Art
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Edgar Degas. Dancer Ajusting The Slipper (1880-1885). Pastel. Fonte: Wiki Art Edgar Degas. Three Ballet Dancers One with Dark Crimson Waist (1899). Pastel. Fonte: Wiki Art
Suas “bailarinas” nunca perderam o encanto. Continuam despertando grande interesse do público.
A aclamada bailarina americana Misty Copeland, estrelou um editorial para a revista Harper’s Bazaar, encarnando algumas das bailarinas de degas.

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